"O conceito católico-romano de justificação consiste, antes de tudo, em que ele significa e inclui o perdão dos pecados, e estão totalmente certos nesse ponto. Mas acrescentam que o pecado inerente em nós é tirado de nós por causa de Cristo. E ainda não param por aí. Prosseguem dizendo que na justificação há uma infusão positiva da graça em nós, e essa vem, naturalmente, por meio do batismo. Dizem que, no ato do batismo, a graça é realmente infundida na pessoa que é batizada, e essa faz parte da justificação. O perdão, a remoção do pecado -sim- mas também a infusão no batismo de uma justiça positiva, e não meramente uma justiça positiva, mas também a vida de Deus. E então os católicos-romanos prosseguem dizendo que a justificação é progressiva. E claro que eles são totalmente consistentes nesse ponto. Se tal infusão da graça existe, ela crescerá e se desenvolverá; a justificação tem de ser progressiva. Além do mais, tipicamente, eles são obrigados a ir além, e até dizer que ela pode ser perdida, caso nos tornemos culpados do que denominam de "pecado mortal". Todavia, se a perdemos, dizem que podemos reconquistá-la passando através do sacramento de penitência, e o processo de penitência será completado no purgatório. Ora, essa é a característica do conceito católico-romano, e esse foi o conceito sustentado por Martinho Lutero antes de sua conversão. Mas, então, vocês se lembram, a história de sua vida prossegue relatando-nos que, repentinamente, ele viu uma declaração nas Escrituras. Ele a lera muitas vezes antes, porém jamais a vira realmente. Eis o que ele viu" Mas o justo viverá da fé" (Rom. 1:17) - e essas palavras, em termos absolutos, mudaram tudo para ele. Toda a sua vida foi revolucionada; ele se tornou literalmente um homem diferente. De súbito viu que toda sua idéia anterior sobre a justificação fora completamente antibíblica, completamente falsa, e no momento em que percebeu isso, ele experimentou uma grande libertação na sua alma. Começou a pregar esta verdade, e então teve início uma grande e poderosa obra de reforma. O que exatamente, pois, Lutero percebeu? Percebeu que a justificação é um ato judicial de Deus, baseado na obra e mérito de Cristo, no qual Ele declara como justos nós que Cremos no Senhor Jesus Cristo, e descansamos nisso pela fé. Eis o que Lutero percebeu. Como consequência, num momento, ele soube que estava de bem com Deus. O problema de Lutero havia sido aquele de Jó: "Como pode o homem ser justo para com Deus?" (Jó 9:2). Esse era o problema que oprimia a mente e o coração de Lutero. Lá estava ele, um monge em sua cela, perguntando: "Como posso me justificar perante Deus?" Ele jejuava, orava, suava, fazia boas obras, e todavia estava cada vez mais cônscio da escuridão e das trevas de seu próprio coração e da absoluta e indizível justiça e santidade de Deus. E ele tentava ajustar-se, a fazer-se justo, de conformidade com o sistema católico-romano, mas não podia; todavia repentinamente ali estava ela. Deus o declara justo, e ele é justo, porque Deus assim diz, porque Deus pôs a seu crédito a justiça do Senhor Jesus Cristo. Esse é o antecedente histórico no qual devemos regozijar-nos mais e mais. O ponto nevrálgico da questão é este: o grande equívoco em que todos nós tendemos a cair, como aconteceu com Lutero, com respeito à justificação, é que a nossa tendência é pensar que a justificação significa que somos feitos justos ou bons ou retos ou santos. Mas isso é completamente errôneo. Na justificação, não somos feitos justos; somos declarados justos - o que é completamente diferente. Afirmar que na justificação somos feitos justos é confundi-la com a santificação. A justificação é algo legal ou forense. É Deus, como juiz, que é responsável por administrar Sua própria lei, dizendo-nos que, com respeito à Sua lei, Ele está satisfeito conosco, devido a justiça de Cristo. A justificação é um ato declaratório - um ato que não faz nada a nós, porém diz algo sobre nós. Ele não tem referência ao meu real estado ou condição interior; refere-se à minha situação ou posição, ao meu comparecimento à presença de Deus. Ora, essa é a doutrina bíblica da justificação. Isso é o que Lutero descobriu; isso é o que ele começou a pregar e, em certo sentido, despendeu o resto de sua vida a proclamá-lo." FONTE: Dr. Martyn Lloyd Jones, "Deus o Espírito Santo - Grandes Doutrinas Bíblicas", Editora Pes, Págs.217-219.
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